Não se nasce pai: torna-se pai, ocupando um espaço e admitindo que é possível, também, falhar
Qualidade de VidaMuito se fala do lugar de mãe, sempre cantado em verso e prosa, mas e o “tornar-se pai”? Conheço muitos homens que conseguiram, de uma forma linda e forte, fazer esta transformação: deixaram o papel de filhos e, por meio de um processo interno e maturacional, seguiram adiante para fazer esta passagem – ser pai.
Costumo dizer que a grande autora e pensadora Simone de Beauvoir nos diz: “Não se nasce mulher: torna-se”. Parodiando este importante e amplo pensamento, ouso dizer: “Não se nasce pai: torna-se”. E este tornar-se está ligado a uma boa relação e identificação que o menino pode ter com ambas as figuras, tanto a materna quanto a paterna.
Talvez estas identificações ajudem na possibilidade de exercer o papel do cuidador, mas também o papel daquele que põe limites ao dar amor – “dar amor”, cuidar e poder estar de uma forma cada vez mais presente no dia a dia (e, para alguns pais, quase nas “horas a horas”). Acho emocionante ver o cuidado destes novos pais ao vivenciarem este papel com tanta desenvoltura, algo que alguns anos atrás não era ainda tão corrente.
O vínculo afetivo e de confiança, base para todas as relações, se faz muito presente no estabelecimento deste contato, que vai sendo gerado ainda com o bebê dentro da barriga de sua mãe. As mães, aliás, têm uma tarefa enorme: deixar e permitir este acesso dos pais a seus filhos, algo tão fundamental e capaz de nutrir também a relação entre homem e mulher. Pois o casamento acontece muito nesta moldura: cabe aos pais desempenharem um enorme lugar, que irá deixar traços que marcarão o desenvolvimento futuro.
O amor do pai e do filho também deveria se estabelecer nestas bases de confiança. Ela será o elemento fundamental para que outros vínculos saudáveis e afetivos possam ser construídos a partir destes modelos de relação. Embora nesta coluna eu escreva sobre maturidade, gostaria de ressaltar a importância do casal que vive este momento de sua maturidade. Desta possibilidade da continuidade, da criação de um espaço no qual um pai pode transmitir os seus legados. Consolidar uma memória familiar na qual ele teve um lindo papel intergeracional: passar um bastão ao seu filho dizendo “pode seguir o seu caminho, aquele que você puder escolher”.
Ser pai é poder tolerar as dores e frustrações. E, mais que tudo, aceitar sim que o mundo nos oferece novas oportunidades a cada dia, a cada hora. Ser pai e ser avô nesta pós-contemporaneidade é recriar novos papéis, aceitando que às vezes os “roteiros“ nem sempre são aqueles que havíamos escolhido.
Que este pai que amadurece possa também se desconstruir de mitos, preconceitos e, sobretudo, aceitar que é falível.
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